16 de jan. de 2011

Cultura, diversão ou arte?

A “pós-modernidade” – como alguns insistem em chamar o processo de reflexividade que experimentamos nos dias atuais – nos colocou frente a um dos maiores dilemas culturais da história da humanidade: aceitar qualquer tipo de produção como sendo “artística”, apenas para superar os traumas deixados em nossa sociedade pelos anos de censura e repressão à arte e, dessa forma, consolidar os direitos à liberdade de expressão e à produção intelectual; ou, buscar compreender o que de fato é importante para a evolução da espécie humana e combater radicalmente a indústria capitalista do besteirol.


Antropologicamente falando, cultura é, de fato, qualquer produção humana e isso abrange desde a totalidade do nosso conhecimento científico até músicas como “Minha mulher não deixa não”, que, de tão acessada no you tube, foi imediatamente gravada por várias bandas famosas de forró e promete ser um dos rits do carnaval, tanto que já rendeu até uma versão/resposta intitulada: “Vou sim minha mulher não manda em mim”.


O grande problema não está na simples escolha, mas na compreensão dos fatores que a motivam e orientam. Achar uma piada engraçada, sendo ela, preconceituosa, absurda, extravagante ou que exponha personagens ou comportamentos ao ridículo - mesmo sendo estes aspectos comuns à produção humorística - não é a mesma coisa que rir de uma piada “inteligente”, embora, insisto, ainda não é aí que mora o problema! Este reside, de fato, na adesão incondicional à idéia, que é a verdadeira mãe da cultura de massa.


Num mundo capitalista a ordem é VENDER... não interessa o que... nem à quem – desde que este possa pagar – e, sem duvida, o maior dos mestres nessa área é o marketing, atualmente, principal responsável pelo emburrecimento da humanidade e por uma concentração de renda sem precedentes históricos. Além dos marqueteiros, ninguém escolhe mais nada hoje em dia. Eles nos dizem o que comer, o que beber, o que vestir, o que ouvir, aonde ir, como falar, o que dizer... escolhem tudo por nós! E ainda, condenam ao anonimato quem não se rende às imposições da moda e/ou da mídia burguesa imperialista.


Um bom exemplo para ilustrar isso é o grupo esloveno Perpetuum Jazzile, conduzido pelo competente arranjador e maestro, Tomaz Kozlevcar, e que, já contando com mais de 25 anos de estrada e várias passagens pelo Brasil, nunca obteve espaço nem despertou qualquer interesse na mídia nacional, mesmo reunindo um coral com vozes fantásticas, um repertório que mistura influências que vão do Jazz à MPB e cantando músicas em inglês, português e espanhol quase sem nenhum sotaque.


Para mim é realmente de tirar o chapéu. Diria até - e sem exagero algum - que é um dos melhores grupos musicais que eu já tive a oportunidade de assistir. Porém, para não correr o risco de ser visto apenas como mais um leigo metido que só quer polemizar, deixo, a cada um, a responsabilidade pelo seu próprio julgamento.


Confiram:








Um comentário:

rony disse...

Muito bom esse artigo, traz uma reflexao muito intrigante sobre o que é vendido como arte e nao passa de pura diversao.E esse coral é perfeito.