ARTIGOS

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A magia do capitalismo:
13º salário e outros contos de fadas

Sinceramente sempre fico chocado com o poder que tem o capitalismo de se regenerar e arrumar maneiras tão eficientes de camuflar sua presença danosa. Todas as vezes que acredito que chegamos ao limite da exploração e expropriação da humanidade pelo capital, percebo que, infelizmente, “o buraco é mais embaixo”.
É impressionante como, cada vez mais, menos gente se dá conta que vivemos em um mundo onde as classes dominantes criam ilusões baseadas em falsas necessidades (espirituais e materiais) e como essas classes geram na população um falso clima de melhora das condições sociais.
Estamos tão envoltos nesse contexto que, às vezes, se torna difícil até para os que exercem um senso crítico sobre a realidade perceberem as nuances da manipulação das ações e reações dos indivíduos em sociedade.
O capitalismo é uma Matrix que transformou tudo em mercadoria e todos em sonâmbulos, apoderando-se não apenas da capacidade produtiva das pessoas, mas também de suas mentes, suas almas e, consequentemente, de sua humanidade.
Poderia aqui enumerar “N’s” exemplos para ilustrar minhas afirmações, mas prefiro me ater aos quatro seguintes, por acreditar que esclarecem bem a questão:

EXEMPLO 1 – Nos últimos dias a mídia burguesa tem investido pesado na cobertura do monumental casamento do príncipe inglês, bombardeando nossa sociedade com uma cultura ultrapassada e trivial para o nosso povo. É preciso atentar para o fato de que isso não está acontecendo por acaso. Somos um país ainda vivendo à sombra da monarquia, tanto que insistimos em atribuir “títulos de nobreza” a qualquer um e por qualquer motivo: o “rei do brega”, a “rainha do carnaval”, o “príncipe dos teclados”, etc. Hipnotizado diante dessa lavagem cerebral, nosso povo esquece de prestar atenção nos problemas reais que se multiplicam ao seu redor e passa a viver num mundo de fantasia transmitido direto do Palácio de Buckingham, consumindo, desenfreadamente, do corte de cabelo da noiva à cafona postura imperial da avô do noivo.

EXEMPLO 2 – Embora alguns não percebam a escravidão nunca foi abolida em nosso país, ao contrário, foi ampliada, pois se antes apenas os negros trazidos da áfrica eram submetidos ao tratamento desumano de seus senhores, hoje todos somos escravos do padrão social no qual fomos inseridos. A elite apenas trocou o chicote pelo salário e o tronco pela dívida. Somos marginalizados e obrigados a viver em guetos, sem saneamento básico, sem escolas de qualidade para nossos filhos, sem assistência hospitalar digna para nossos enfermos, sem transporte público, sem direito a lazer e principalmente a cultura, enquanto a burguesia se esconde atrás dos muros altos dos condomínios ou dos vidros fechados de seus carros com ar condicionado. Como se isso não bastasse, ainda convenceram a grande maioria de nós a levarmos para dentro de nossas casas a maior máquina de alienação em massa já construída, para que através dela pudessem padronizar a humanidade, ditando como devemos nos comportar, o que vestir, o que comer e onde comprar. E não adianta apelar para o controle remoto: mudar de canal é trocar seis por meia dúzia!

EXEMPLO 3 – Na década de 60 do século passado a elite dominante criou um mecanismo altamente eficiente para enganar os trabalhadores, tanto que ainda hoje milhões de pessoas anualmente são vítimas dessa farsa: o 13º salário. Não sou economista, nem matemático, mas como Cientista Social gostaria de propor que o caro leitor me acompanhe num simples exercício de raciocínio, vejamos: o valor atual do salário mínimo pago mensalmente é de R$ 545,00; se multiplicarmos esse valor por 12 meses, veremos que em um ano um trabalhador recebe exatos R$ 6.540,00 que, somados aos R$ 545,00 supostamente oriundos do 13º, resultam no total de R$ 7.085,00. Agora raciocinemos: sendo o salário mínimo pago mensalmente significa que o valor recebido por uma semana de trabalho é de R$ 136,25; agora se multiplicarmos esse valor pela quantidade de semanas que tem um ano, ou seja, 52 semanas, advinha qual será o total obtido: os exatos R$ 7.085,00 que tínhamos antes, assim sendo, você nunca recebeu nenhum centavo a mais pelo seu trabalho, pois o 13º NUNCA EXISTIU!

EXEMPLO 4 – A dominação ideológica promovida pela burguesia para se manter no poder, aliada as necessidades de um povo condenado a condições subumanas de existência, provoca verdadeiros lapsos de memória na população, ou o que é ainda pior, uma cegueira coletiva voluntariosa que os torna coniventes e, consequentemente, cúmplices dos desmandos administrativos que se acumulam por toda parte. Isso é muito grave, pois permite que políticos de quinta categoria que conquistaram o poder se valendo do sofrimento do povo e utilizando o assistencialismo como moeda de troca, camuflem sob a denominação de “projetos sociais” a distribuição de seus donativos, justificando legalmente o desvio de verbas públicas que deveriam ser gastas na melhoria das condições de vida da população e não na peixaria da esquina. É realmente uma pena que o povo ainda faça fila para mendigar esse tipo de esmola ao invés de cobrar de seus governantes a real efetivação de seus direitos.
       Sei que é chocante ter que admitir isso, mas já há muito tempo que somos parte indissociável dessa CANALHOCRACIA.

Recife, 28 de abril de 2011
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INFORMAÇÃO X CONHECIMENTO:
verdades e mentiras sobre pesquisas eleitorais.


É uma pena que seja tão comum que nossa sociedade confunda com tanta facilidade os sentidos destas duas palavras, pois, embora se complementem, informação e conhecimento são coisas muito distintas.
Informação é tudo que se absorve do exterior ao ser, assim, desde feto, o ser humano recebe informações, principalmente, as sensoriais; enquanto que, o conhecimento é o conjunto das informações apreendidas pelo ser ao longo de sua vida.
Inevitavelmente, quem reúne, em maior número, as melhores informações, se torna um privilegiado. Quanto mais bem informado, mais poderoso!
Num mundo capitalista e globalizado, como não poderia deixar de ser, a informação é mais uma mercadoria, submetida, como qualquer outra, às leis de mercado, o que torna algumas informações muito valiosas - quanto mais rara, mais cara! -, imaginem, então, o conhecimento?
A informação vem de qualquer parte, não tem compromisso com a verdade e, o que é uma informação valiosíssima par uns, pode não fazer o menor sentindo para outros. Já o conhecimento, reúne informações exaustivamente testadas, e por isso, aceitas como “aparentemente” verdadeiras. Aparentemente, porque não é possível ao ser humano apreender toda verdade, seja pelas próprias limitações impostas à sua condição de ser num plano de existência material; seja pela facilidade com que se pode enganar os sentidos a partir da implantação de uma informação falsa. Nasce, assim, a desinformação!
E a quem serviria um processo de desinformação?
Bem, pode até não parecer, mas muita gente lucra com isso.
A indústria capitalista descobriu um ótimo meio de aumentar seus rendimentos: a padronização da humanidade. Como, para a produção em escala – que é a matriz de produção hegemônica da indústria moderna – quanto maior for a quantidade produzida, mais barato será o custo final da unidade; tornou-se necessário fazer com que cada vez mais gente “goste” das mesmas coisas, para que assim, cada vez mais gente compre as mesmas coisas. E, não se engane, essa lógica também é aplicada à política.
Toda pesquisa, seja ela, econômica, política ou social, está submetida a uma rígida metodologia, baseada em critérios científicos de avaliação, norteados, principalmente, por conceitos estatísticos. Esses conceitos determinam que é possível, a partir da análise de dados coletados através da realização de pesquisas quantitativas e/ou qualitativas, fazer-se conhecer as probabilidades de ocorrência de um determinado fato, mas nunca o fato em si. Por se tratarem de dados probabilísticos, os resultados das pesquisas são capazes, apenas, de apontar tendências, comparando medidas de posição, como média, moda, mediana e quantil, a medidas de dispersão, como amplitude e variância. Entender isso, além de não ser nada fácil, não é apenas uma questão metodológica, é, sobretudo, uma questão primordial para se interpretar de maneira correta os dados de uma amostra, e, infelizmente, nem todo mundo detém esse conhecimento.
Acredito que você já ouviu falar em “margem de erro” de uma pesquisa, principalmente em se tratando de pesquisa eleitoral, mas quem de fato sabe o que realmente significa isso, além daqueles que estudaram os elementos da estatística? E ainda, porque esse conhecimento não é popularizado?
As pesquisas de opinião - que é onde se enquadram das pesquisas eleitorais - são pesquisas Ad Hoc, ou seja, feitas sob encomenda, para atender as necessidades de um dado cliente, geralmente: veículos de comunicação; entidades não-governamentais nacionais e estrangeiras; empresas públicas e privadas; associações; sindicatos; grupos religiosos; além de partidos, coligações e candidatos, que se utilizam desses dados no planejamento estratégico de suas campanhas.
Assim sendo, o resultado de uma pesquisa eleitoral pode ser facilmente manipulado para atender aos interesses do contratante, sejam eles: conhecer o posicionamento de um candidato e/ou das forças concorrentes; avaliar a intenção de voto de uma parcela da população; ou ainda, realizar o mapeamento social e político do eleitorado.
Mas o que isso tem haver com a tal desinformação? Absolutamente tudo! Através do acompanhamento periódico de determinadas tendências de opinião é possível traçar, com uma relativa margem de segurança, o perfil de comportamento da opinião pública, e assim, manipulá-la, através da implantação de informações falsificadas, iniciando-se então, o processo de desinformação, que, consequentemente, conduz ao desconhecimento. Desconhecer significa não tomar consciência do que existe, e, se você não tem consciência da existência de algo, não tem como exercer seu senso crítico plenamente!
O principal pré-requisito para a utilização do senso crítico como ferramenta de orientação das nossas ações e reações é o conhecimento, e este, só é possível de ser apreendido, através de processos complexos de aprendizagem, como por exemplo, a educação escolar e familiar.
Se não existe na população um senso crítico apurado, a informação de que “A” está na frente de “B” em uma determinada pesquisa, ou ainda, que a presença de “C” é um fator de desequilíbrio nessa conjuntura, não significa absolutamente nada, são apenas palavras jogadas ao vento.
O povo brasileiro tem supervalorizado as pesquisas eleitorais simplesmente por não entender como elas funcionam e o que elas realmente significam. Se soubesse, talvez não tivéssemos tantos problemas envolvendo gestores públicos e atos de corrupção, pois na hora de escolher nossos representantes jamais levaríamos em consideração os resultados de uma pesquisa.


Recife, 11 de abril de 2011
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Reflexões natalinas

          Nossos antepassados descobriram por meio de muita observação e complexos cálculos matemáticos que a cada 365 dias - e 06 horas - o planeta Terra, lar de bilhões de seres - distribuídos entre milhões de espécies - completa mais um ciclo de sua existência... e, então, tudo recomeça. Mas não do mesmo jeito. Nunca do mesmo ponto. A cada novo ciclo concluído, o planeta - nossa nave mãe - carrega consigo, inexoravelmente, para mais uma odisséia, todas as cicatrizes adquiridas nas jornadas anteriores. A esse “fenômeno” demos o nome de EVOLUÇÃO!
          Mais observações e cálculos ainda mais complexos demonstraram que a evolução é uma constante universal, uma lei imutável da criação: TUDO ESTÁ CONDENADO A EVOLUIR!
          Para o filósofo alemão, Friedrich Hegel, por exemplo, “a realidade é essencialmente mudança, devir, passagem de um elemento ao seu oposto”. Esse processo se dá, segundo a lógica hegeliana, através da dialética: “uma progressão na qual cada movimento sucessivo surge como solução das contradições inerentes ao movimento anterior”, formando assim, o esquema básico do método dialético: tese, antítese e síntese.
          Nós, humanos - espécie de câncer que corrói o organismo terrestre pela sua ganância - embora tenhamos presenciado dezenas de exemplos, ainda não conseguimos observar nem calcular seriamente os danos que causamos uns aos outros diariamente. É cada dia mais fácil cruzar com mendigos e crianças dormindo nas calçadas e nem se chocar com a nefasta cena, afinal, eles já são tantos, né? E como “NÃO PODEMOS FAZER NADA POR ELES”... VAMOS ÀS COMPRAS!
          Não porque realmente precisamos daquela calça Diesel, Zoomp ou Vide Bula, nem, tão pouco, daquele celular turbinado com parafernálias que muitas vezes nunca chegaremos a usar, mas porque, passamos toda nossa curta existência sendo adestrados pelas mensagens subliminares das propagandas, para sermos “CONSUMIDORES”, prontos para enganar nossos filhos contando a tradicional mentira da existência de um “bom velhinho” e ansiosos para ensinar-lhes o qual é prazeroso entupir-se de dívidas desnecessárias e comprometer mais um ano de vida para pagá-las.
          Se tudo está mesmo condenado a evoluir, por que a escravidão fugiria a regra?
          Faz-se, urgente e necessária, uma profunda mudança no paradigma do “SER” humano. Não é necessário TER para SER! Tínhamos tudo e uns poucos nos roubaram, roubaram a infância de nossas crianças e nos submeteram às suas regras assassinas.
          A lógica capitalista é impressionante! Dizem-nos que os usuários de drogas financiam o tráfico, mas não mencionam que o consumismo mercadológico, além de sustentar a escravidão de milhares de trabalhadores nos países de terceiro mundo, degrada cada vez mais rápido nosso planeta; não falam que o trafico só tomou conta de territórios onde o Estado se omitiu; se quer discutem com seriedade o tamanho do dano causado ao nosso povo pelo culto ao besteirol, invenção da indústria fonográfica, que, há décadas, vem ensinando nossas filhas a dançarem na boquinha da garrafa e nossos filhos a prestarem mais atenção à bunda da mulher melancia do que a escolha dos membros das nossas casas legislativas.
          Vivemos em um mundo no qual 60 pessoas apenas definem o destino dos outros seis bilhões de habitantes; que 10% da população detém 90% de toda a riqueza produzida no planeta; onde, como bem disse Caetano: “Morrer e matar de fome, de raiva e de sede, são tantas vezes, gestos naturais”!
          Nesse momento festivo essas palavras podem até parece inconvenientes ou deslocadas, porém, são extremamente necessárias, pois, exatamente nesse momento, enquanto toda a hipocrisia social é reavivada nos mais sinceros votos de “feliz natal e um próspero ano novo”, mais uma criança acaba de morrer de fome ao maravilhoso som do pipocar de espumantes importadas.
          Ficam as perguntas: o que de fato estamos fazendo para melhorarmos a nós mesmos? Quando acontecerá o próximo salto evolutivo da humanidade? Quando, enfim, conseguiremos ver o que está presente, mas não é visível?
          Existe uma armadilha tão poderosa nos aprisionando que nos demonstramos incapazes de enxergar a verdade.

Recife, 25 de dezembro de 2010
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